Técnicas
Na calçada portuguesa é usada exclusivamente a técnica de percussão. Cada calceteiro seleciona a face mais perfeita do cubo que irá ficar à superfície e aparelha as arestas, percutindo, com a seta do “martelo de passeio” que tem numa mão, no sentido oblíquo, com pancadas certeiras na pedra que tem na cova da outra mão, no vértice que é para extrair. Rodando o cabo do martelo, bate com a pena no areão e aí coloca o cubo (ou outra forma) já cortado, dando-lhe pequenas pancadas secas com a seta, de modo a ajustar o acasalamento e garantir que ficou firmemente enterrado (até meia altura da pedra). Assim, os calceteiros ora viram o martelo para partir a pedra com a seta ao tamanho certo de encaixe, ora viram o martelo para bater com a pena na pedra colocada. Se esta não encaixa à primeira, retiram-na, viram o martelo para a partir de modo a dar-lhe a forma necessária ao acasalamento e travamento certos, como um puzzle e repetem o processo várias vezes até acertar. Ainda hoje persiste a lembrança dos “antigos” que competiam entre si pela perfeição e noção do rigor no aparelhamento das pedras, não devendo entrar entre elas uma mortalha de papel de arroz sequer.
O polígono da face de piso, o tamanho e o acasalamento das pedras é que define os diversos tipos de calcetamento artístico. Tipos mais frequentes de calcetamento:
- calçada à portuguesa – a mais antiga das técnicas, geralmente de calcário e basalto, pedras miúdas, de tamanho variável e com faces irregulares, assentes à sorte, mas de modo a acasalarem. Trata-se de uma técnica que só deverá ser utilizada quando a intervenção proposta tiver por base uma calçada pré-existente com estas características.
- Malhete – a mais sofisticada e difícil das técnicas, a que melhor revela a mestria de um calceteiro, em que as pedras, de talhe poligonal irregular, tendencialmente pentagonais, acasalam pelas arestas. Quando o vértice de uma pedra parte do meio da aresta adjacente designa-se malhete rasgado.
- sextavada – quando as faces das pedras são talhadas de modo a formar hexágonos regulares, com diâmetros aproximados de 5 centímetros, e os vértices e arestas a coincidirem com as adjacentes, apresentando no final o aspecto de um favo.
- ao quadrado – pedra talhada em cubos mais ou menos regulares, com 3×3 a 5×5 cm, que acasalam face com face. Actualmente a mais corrente para preenchimentos em larga escala, e pode ser assente de diferentes maneiras:
- puxada ao quadrado – quando o cubo assenta de forma que os vértices opostos formem uma perpendicular ao lancil i. é, na diagonal segundo um alinhamento de 45 graus. O arranque deste empedrado é feito por um bico (designação dada à pedra triangular que resulta da fractura de um cubo pela diagonal de uma das suas faces) ou uma pedra setada (pedra poligonal em forma de seta). Actualmente a disposição mais comum.
- à fiada – com as pedras cúbicas alinhadas em fiadas paralelas à linha do lancil, formando fileiras bem definidas. Trata-se de uma disposição relativamente recente e pouco interessante, iniciada pela facilidade e rapidez da sua aplicação e para a qual não é preciso grande mestria dos executores.
- em leque – com as pedras tendencialmente cúbicas assentes de modo a formar diversos tipos de leques (ou escamas): o leque segmentado, o leque florentino, o rabo de pavão ou o leque em concha.
- de forma circular – com os cubos de pedra a serem dispostos em circunferências concêntricas, obtendo-se um efeito óptico de rotação.
Há ainda toda uma outra série de talhes de pedra que são geralmente utilizados com complemento dos anteriores: em leque, em hexágono alongado ou marreta, em seta, em pera, em triângulo, em círculo, etc.